" Tudo o que vai volta, mas nem tudo o que volta encontra o que deixou."




É domingo. Acho eu. O raios de sol espreitam pela janela, tocam suavemente na minha pele, beijam as minhas sardas. Tento abrir os olhos mas tal esforço é-me negado. Puxo os cobertores da minha cama de casal e enrolo-me neles. Nisto ouço um gemido. Alarmada levanto o meu corpo mole e semi nu da cama. Olho em redor a analiso o espaço em redor - roupa espalhada pelo chão. Botas pretas, casado de pele, calças da levis, o meu vestido preto - as peças todas salpicadas pelo quarto tal e qual as pintas de um damalta, um confusão total. Sinto o pânico, arrepios repetidos percorrem o meu corpo. Viro-me e fito a minha cama, a minha cama de casal que não está vazia. Um vulto de caracóis loiros geme e puxa os cobertores para si. A imagem chega a ser digna de um filme, a personagem em si é digna de fotos de revista.
Nisto imagens da noite anterior assaltam a minha memória - dividir uma garrafa de vodka com a Rita, entrar no bar, os shots, a dança sensual e bastante provocante contra o vulto de caracóis. Lembro-me das mãos fortes e quentes dele a percorrem o meu corpo, recordo-me da ânsia de mais, do desejo formado no estômago, lembro-me da segurança que senti quando ele pegou em mim e me beijou, primeiro doce e calmo, com um toque de whiskey e tabaco, lembro me de sentir a lingua dele percorrer o meu pescoço enquanto que me puxava para mais perto.
Perante o bombardear de imagens sinto a necessidade de me sentar, caindo aos pés da cama. A minha cabeça dói, tal como as minhas pernas, e o meu pescoço. Não sou de aventuras como esta logo não sei como agir, se isto fosse um livro, se isto fosse um dos romance que adoro e devoro todos os domingos, tinha encontrado o amor da minha vida. Mas isto é a vida real e como tal sei que a situação será mais cruel. Levanto-me e entro no quarto de banho, ligo a água quente do chuveiro, tiro a roupa e olho ao espelho. Tenho a pele marcada, e cada marca trás consigo uma memória. O vermelhão no pescoço foi feito no táxi, a mordedura no peito tinha sido na cama, logo depois de me ter tirado o vestido e o soutien. As várias marcas de aventura ao longo das pernas, coxas e ancas são prova do desejo sentido ontem, ele também as deve ter por todo o corpo , penso. Quando entro no chuveiro deixo a minha mente vaguear por todas as emoções que senti, muitas pela primeira vez. Não me recordo do seu nome, ou da sua voz. Não sei o que faz, quem é ou o que quer , mas gostava de saber. Gostava de encontrar alguém com quem pudesse passar uma noite como a de ontem e partilhar o dia seguinte, deitados na cama, a falar ou a ver filmes.
Viro-me com a intenção de ir buscar o gel de banho quando a porta do chuveiro abre e revela um Adónis nu.
- Bom dia boneca, posso entrar?
Aquela voz. A voz rouca e danificada pelo tabaco. Eu conheço aquela voz. Boneca. Já ninguém me chamava boneca. Nunca ninguém me chamou boneca depois do Diogo ter partido há vários anos atrás.
Perante a falta de resposta ele entra, dá um passo na minha direção enconstando-me contra a parede fria do chuveiro. Inclina a cabeça, passeia os lábios pelo pescoço e sussura :
- Não me digas que te esqueceste de mim Boneca, só se passaram 14 anos. - Para de falar e beija-me no pescoço, subindo levemente e demorando todo o tempo do mundo até chegar ao canto dos meus lábios- Eu não me esqueci de ti. Num movimento rápido puxa-me para perto de si, esmagando me contra o seu tronco, beijando-me com vontade e força. Beijou-me até me fugirem as dúvidas, beijou-me até os meus joelhos tremerem e eu perder as forças, beijou-me até eu conseguir dizer :
- Diogo, voltaste para mim ....

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